sábado, 8 de outubro de 2011

Resumo

Descobrir que sua sina é viciosa não é tão confortável quanto calçar um tênis azul e amarelo. É medonho. E como medo sempre foi meu codinome, vesti o destino do meu caminho sem perguntar muito, por mais que minha curiosidade apele interrogação. Deixei tudo me caber apertado na cabeça e no peito como uma menina pequena que finge descobrir o mundo, mas sabe conhecer uma verdade como ninguém. O lúdico nunca vai me deixar.

Minha desordem começa por fora de mim. Não por desgosto, nem por agrado algum as coisas fora do seu lugar. Tudo é que insiste em acontecer nesta fora de ordem ao meu redor. Como se mesmo obrigado a ventar do mar pra terra, meu vendo desejasse partir.

É quase como subir uma escada pulando degraus, correndo no passo para sentir o prazer de tropeçar mais a frente. O que me surpreende é conhecer muito bem esse tropeço, mas não desistir dele. É o limite do meu prazer e minha dor.

Minha reza, quando deito, canta o sossego, mas n’alma meu desejo é o desmantelo.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Aberta

Abrir a porta e pedir passagem para um amor antigo ir. Na verdade, quase implorar para que ele siga e não leve muita parte de mim. Que não me tire as manhãs de domingo acordada pelo beijo, o sol batendo na pontinha do pé frio e a música que deixava uma preguiça e a vontade de te deitar junto. Nem os banhos de rio, muito menos os carinhos que se encaixavam como um Lego. Não sei se dói mais deixar partir ou encarcera essas coisas que a gente descobre com o tempo que sabe sentir.

A frequência da lembrança vai cessando, mas a cada volta ela perturba uma parte diferente. Ora o olfato, quando, por acidente, sinto o perfume em outro alguém. Ora no tato, quando, agora de propósito, comparo um toque.  Ora no peito, quando, mais uma vez por conta própria, volto a ler nossas cartas. Mas cada vez mais, essa volta se dá de forma madura, como um momento que vivenciou todas as suas etapas e findou.

Pontoar o que sentir é de vera confuso quando sei que um sentimento não morre em um ponto. Aqui, se tudo isso fosse apenas um texto seria o momento certo para uma vírgula. Um rito de passagem. Como se me abrissem em duas para seguir rumos distintos, mas sempre paralelos e meus.


  

sábado, 20 de agosto de 2011

Coisas de menina pequena


Eu pelejei para lembrar, mas consegui arrancar as minhas melhores histórias. A primeira que me veio à cabeça foi bem lucida. Lembro da cozinha. Os eletrodomésticos eram de um tom de marrom claro; as paredes cobertas até o teto com um azulejo bege com desenhos florais; era um corredor, onde do lado direito ficavam a geladeira e o fogão – com uma mesa de formica entre os dois. E do lado esquerdo a pia e um filtro de barro com uma tira vermelha marcando a separação das duas peças. Lembro da cozinha porque era lá que eu tentava, com a fúria da minha infância, sugar uma caixinha de toddynho em uma só sugada. Eu sei porque fazia isso. Parecia que o liquido chegava mais grosso dessa forma. A textura parecia modificar o sabor do achocolatado. Bobagem de menina pequena.

Lembro da minha primeira bicicleta. Um orgulho muito maior que eu. Tão maior que não conseguir dá uma única pedalada nela naquele ano. Me sobrou a bicicleta velha da minha irmã. Era azul, parecia de menino, parecia uma pequena motocicleta sem motor. Lembro também que ela não conseguia pedalar direito a minha Caloi Rosa Claro e tinha que subir no canteiro do estacionamento dos carros pra subir no meu presente. No primeiro dia que ela andou na minha maquina, trombou com a bicicleta de um vizinho e ele prendeu o braço na roda da minha bicicleta que ela pedalava. Acho que hoje ele deve pensar: Preferia que a pequena tivesse ganhado o presente grande e esperado o tempo certo para usar.

Também consigo sentir o cheiro do quintal da minha avó e avô paternos. Tinha o pé de carambola, onde eu subia pra ver o quintal de um terreiro – e minha avó, cristã que era, dava escândalos quando notava a cambada de netos pendurados na árvore pra ver coisas novas – Tinha o pé de goiaba, que servia de mostruário de chibatas para meu avô, um homem com dons artísticos não aproveitados; um pé de pinha – que eu nunca vi uma pinha pendurada; e um pé de framboesa, que me encantava pela delicadeza.  Um cacho de uva pequeno com um gosto doce e azedo em um mesmo corpo. Era o fundo da casa, que mais parecia uma caixa de areia gigante – apenas para uma criança. Meu avô construiu com as próprias mãos aquele paraíso. Como eu gostava daquele lugar. Como aquele lugar me construiu com as próprias mãos.

Teve o dia em que fui a rainha. Minha irmã mais velha ficou doente e não pode ir para a escola, meu irmão mais novo ia para o berçário com minha mãe. Então, esse foi o primeiro dia que fui sozinha na caçamba da Pampa do meu pai para a aula. O vento que meu ventilador faz agora me lembra muito bem o vento que batia no meu rosto. Uma liberdade que além de ser só minha só eu entendia. Eu fui me segurando nas armações de ferro que esses carros com caçamba têm. Eu era tão pequena, mas me senti naquele momento em uma viagem sem fim com meu maior super-herói.

Outro dia memorável foi quando minha mãe precisou descer e deixou minha irmã mais velha cuidado de mim e do meu irmão. O desenho animado, ou algum desses programas infantis, chamou mais atenção e ela ficou como toda criança fica, hipnotizada por aquela caixinha preta (que na minha época era literalmente uma caixinha e de preto só tinha o fundo, porque a frente era prata com botões gigantes). No quarto, meu irmão viciado em perfumes desde sempre, achou um frasco de perfume de um litro. Daqueles com cheirinho de bebê bem vagabundo. Colocamos a cadeira na frente do armário onde estava o frasco e em uma aventura emocionante escalamos o guarda-roupa – que hoje bastaria levantar a mão para alcançar seu fim. Ele pegou o pote, me abraçou e juntos tomamos um banho de perfume como nunca na vida tomei mais.

Minha avó paterna. Ela sempre pagava ônibus. Foi com ela que aprendi a levantar a mãozinha pra ele parar. O meu favorito eram os elétricos. Eram azuis e os bancos ficavam frente a frente na vertical. O barulho que eles faziam; os estalos e o fogo que saia no fio. Gravei tudo na memória. Na espera desse ônibus, espacial para mim, me divertia na veia grossa e gorda da minha avó. Brincava de prender a circulação dela, brincava de tocar uma música sem som. Nosso destino era o Centro da Cidade. Como eu gostava daquela gente correndo, daquela gente sem tempo. Ela parava em várias lojas e sempre no mesmo banco. Me sentia tão orgulhosa de ver que todos conheciam minha avó. Ela cumprimentava as pessoas com uma elegância que até hoje tento copiar. Era um gesto simples de cabeça e um sorriso que nunca vi igual na vida – nem sorriso, nem uma canjica tão boa quanto a dela.

Já minha avó materna era a mulher dos bolos. Meu primeiro gole de cerveja foi em um bolo dela. Bolo com cerveja. Ela era mais traquina que qualquer criança. Era diabética, mas sempre me enrolou direitinho e me fazia entregar meus biscoitos recheados por uma aliviada nas minhas próprias traquinagens. Ela me contava histórias de um tempo muito distante do meu. Contava os cortejos que meu avô materno fez para conseguir a mão dela em casamento, dos escravos das terras da família, das cidades pequenas que ela passou. Meu maior divertimento era tentar roubar um abraço dela. Como é engraçado agora lembrar a fúria que ela ficava no rosto e o gosto que ela sentia nos braços quando a gente se abraçava. Aquele rosto branco de cabelos negros e braços gordos nunca saiu da minha cabeça. Como aprendi a ter razão com ela.  

Vovô Tota. era assim que chamávamos seu Francisco, meu avô paterno. Ele sempre, mais sempre dava moedas pros netos comprarem doces na barraca do Chico, que ficava na esquina da casa dele e da minha avó. Um dia, ele com seu talento pra mexer com madeira e modulagem, me fez um cofre de madeira. A primeira fez que enchi esse cofre com moedas foi agora a pouco. Ele é grande até pra gente grande. Lembro também dele debaixo do pé de carambola tecendo sua rede de pesca. Ele mesmo fazia, ele mesmo me ensinou a pescar meu primeiro peixe – que acabou pulando para o mar de novo, para minha felicidade.

São tantas histórias que me fazem. São tantos eus que me constroem. Volto, hoje, para me lembrar a essência, para não esquecer as coisas velhas. Volto no pensando, mas com uma vontade danada de voltar de verdade, porque naquele tempo, meu maior desafio ainda era tomar um toddynho em uma só sugada. 

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Perdi a minha fé e não foi em nenhum dos meus cantos. Assumo, sou apostata. Troquei a minha fé pela razão, porque não foram só os meus planos que caíram por terra, mas cada pedaço da minha carne.  Essa é minha ferida aberta de vida e cada vento que sopra queima o fogo, atiçando minhas brasas adormecidas.

Sem engolir palavras, conheço hoje minha pior parte. Minha dúvida, minha constância nesse estado inerte, acorrentada dentro da minha própria história. Sinto que me apararam as garras, me roubaram a chance de fugir.   

Dentro deste meu mundo perco os sentidos e já confundo sede com fome, na verdade não sei se meu corpo pede pelo prazer de comer ou pela ferocidade de devorar.

É como pedir licença para se humilhar. Pregar os olhos em paredes frias e esperar que tudo se volte para seu devido lugar.

Na verdade, sei que me engano. Porque a fé sou eu e a razão nunca me coube. 

domingo, 7 de agosto de 2011

Sexo II

Minha vontade é lei. Agora isso basta. 

sábado, 6 de agosto de 2011

Sexo

Meu corpo nu marcado pelo cobertor grosso. Um sorriso saindo pelas pontas dos olhos. Café. A bagunça arrumada do quarto. O vento musicando na beira da janela e o ventilador misturando tudo. A fumaça do seu cigarro bailando entre nossos espaços, junto ao nosso calor.

O toque. As linhas dos dedos riscando a silhueta da cintura, das coxas, dos peitos. Carne. A tinta fresca escorrendo em uma tela branca. Guache. É o nosso desenho.  A luz nos abraçando e o tempo liquidificando. Nos corredores dos teus dedos os meus. Suor. Tua pele em forma de chamado. Meu desejo pulsa como sangue. Ritmo.

Na palma de tua mão meu sexo. Em algum canto da minha alma teu gozo.   

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Velhas descobertas

Até onde sou leal a mim mesma? Até onde consigo seguir o que meus ideais concretizam? Não sei, não por duvidar da minha lealdade, mas por não conhecer todos os terrenos do meu ser. Meu lado escuro, meu lado claro, minhas honras e o gosto da vingança que sinto na ponta da língua. São os desconhecidos dentro de mim que acabam por governar certas decisões que nunca conseguiria eu mesma tomar.

domingo, 31 de julho de 2011

Alucinados

Foi como levar um choque na geladeira, rápido. Como fechar os olhos e esbarra em você de braços abertos.  Marinheiro de milésima viagem deveria imaginar coisas do tipo. O mar muda. Quando você menos espera tudo sai do lugar. Da cozinha você vai pro quarto em dois passos. Não, seu apartamento não é pequeno. Isso é a pressa.

Começar ar a ler a orelha de um livro e pular pra última frase, tudo na ânsia de juntar as migalhas dentro da caixa, seja de pão ou de bolacha. Fiz uma sujeira, baguncei e não arrumei.

Que não seja tão rápido na partida quanto foi na chegada. 

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Porta retrato

Antes de deitar gosto de me perguntar: Será que vala a pena ter essas fotos pregadas na parede?  Repassar cada momento daquele sem deixar de lado nenhum segundo? É um vício. Já tentei arrancar da parede, já tentei arrancar de mim. Mas tudo foi grudado com cola de marca – prega mais que Super Bonder. Não adianta agora querer puxar com força.

Então o que me resta é olhar. Sim, elas ficam em um lugar estratégico. Não existe escapatória. Ou não entro mais no meu espaço, ou vou ter que aprender a olhar e não reconstruir, nesta linda cabecinha que Deus me deu, cada minúcia daquele cheiro. Tarefa difícil.

Deviam criar uma cartilha: Como olhar e não vê. Podia ser em braile, juro que me esforçaria para aprender a decifrar cada pontinho.  Talvez fosse mais fácil assim. É ai que me pergunto: Teria tanta graça? Não sei. Acho que nessas horas eu nem penso mais no que é engraçado.

Não adianta. Vou me deitar agora e mesmo fechando os olhos para não ver estampado em todas as paredes do meu quarto, eu sei que quando adormecer vou te ver do jeito que mais gosto: Pintado em um real tão cru e seco que quando acordar vou acreditar em você. 

Educação infantil


Sem pretensão alguma as minhas palavras saem quase que golpeando a carne, mas pra não deixar a ferida aberta e o sangue escorrer, as mãos são rápidas e apresenta o meu lado bondoso.

Seguro para não deixar topar no meio do caminho. É como a tarefa do garçom que, por descuido, deixa a bandeja escorre entre os dedos e luta contra todos para não quebrar um copo. Se mostrando orgulhoso por cumprir sua tarefa sem desperdícios no fim da noite.

Calcular, certas coisas, é preciso. As contas no fim do mês, trivial; A quilometragem do carro, para economizar gasolina e ter mais álcool; E as mulheres que deitam em sua cama, para contar vantagem e ganhar experiência de vida.

Experiência de vida daquelas que seus pais contam quando você é pequeno, mas não quer te assustar. “Meu filho, quando você crescer vai ver que as pessoas são ruins e pisam umas nas outras”. Bem, aprendam desde cedo, crianças, o que eles querem dizer é: Cuidado, uma nega pode foder com você. E não é no sentindo mais gostoso da palavra.



quinta-feira, 28 de julho de 2011

Desmedido

É estranho se sentir vazio e conhecer cada detalhe desse espaço. Seria um espaço?

É estranho sentir medo de sentir. Teria cabimento?

É estranho não ouvir sinos tocando. Esqueci os contos de fadas?

É estranho sentir a pele esticar. Síndrome de Peter Pan?

Nada que me faça mover uma palha. Nada que me faça querer e desejar uma carne crua, um corpo quente. Mas as cores daquela unha me tiram do sério. Aquele verde junto à cor dourada da pele e o branco dos dentes escancarados em um sorriso roubado por mim fazem meus pés baterem em um ritmo acelerado. Desnorteante. É como receber uma tapa antes do gozo.

Contraditório, sei bem, mas é assim.

Sem planos, mesmo que me perca nas horas imaginando o dia seguinte. Sem compromisso, mesmo que desperceba outros sorrisos. Meu vazio é bem recheado com paredes de labirinto.

Extremo da loucura. Receio pelo tempo apertado, assim como eu. Receio por mim mesma que pareço desconhecida dentro disso tudo.

Soluções. Elas são para os calculistas. Frias, metrificadas.

Pois, sem rima, sem jeito, com medo e com olhos vendados me largo, mais uma vez, por esse mundo perturbado dos que se apaixonam.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Mantenha sua janela sempre aberta


Minha janela me surpreende. Agora, às 2 da manhã, eu posso ter uma conversa amigável com o vizinho do prédio ao lado fumando seu baseado sagrado e eu fumando o meu careta. Me vem a cabeça os risos dele: a menina fuma cigarro sem graça. E a minha inveja pelo outro fumo. Bem que eu podia puxar dessa fumaça mais leve. O tenho como um amigo da madrugada. Sempre sou recebida com um comprimento tímido; ele balança a cabeça de lá e eu de cá. Fico na janela só o tempo do cigarro, mas ele fica mais. Quando volto pra fumar o segundo ele sempre está olhando o que eu não posso vê. Nessa hora ele já nem me nota mais. Ai eu começo a olhar os movimentos, tento imaginar o que tem dentro daquele quarto, do qual mal consigo vê um quadro de moldura fina e escura. Um mundo de outrem que desconheço por completo.

Quando chego à janela durante a tarde vejo só os pivetes, deste mesmo outro prédio, brincando. Eles correm entre carros com uma esquiva que tenho certeza, aprenderam jogando rpg em algum vídeo game de alta tecnologia. Os gritos e risos são tão altos que mesmo quando tento evita-los, eles invadem meu quarto e sou forçada a fumar um cigarro só pra ficar olhando. Tem um deles, um ruivo, baixinho e com um sorriso encantador que sempre me acena. Ele ri e da um tchau desses de menino pequeno que deixa qualquer durão abestalhado. Deve ter seus 8 anos. Lembro que a primeira vez que me viu tentou me mostrar ao resto do grupo. Ninguém deu bola pra o que ele apontava. Eu. Me apontava e gritava, mas era um grito de convite, como se me quisesse no grupo, me chamando pra diversão. Eu nunca desci, mas nunca deixei de aparecer na hora marcada da brincadeira deles. Pelo menos pra ganhar um aceno e aquele sorriso bobo, que logo se vira e se mistura entre os carros, correndo e gritando.

Essa tarde eu cochilei; perdi o meu aceno. Quando cheguei à janela pra fumar meu cigarro o sol já estava se esmagando entre prédios e o céu todo laranja. Os meninos já deviam ter subido há muito tempo. Eu, sem saber pro que olhar, fiquei me perdendo de varanda em varanda. Até que na ultima varanda do lado esquerdo eu a vi. Ela estava sentada no chão, sua varanda era toda de vidro e consegui vê até seu vestido, um rosa com babados. A cabeça escorada no vidro ela me analisava e parecia ser costumeiro faze-lo. Me senti intimidada. Ela não me comprimentou, só olhava. Não consegui olhar fixamente; Será que ela sempre me olha? Tão escondida, nunca poderia achar. Ficamos as duas nesse jogo medroso pra mim e divertido pra ela que sorria com malicia para uma menina pequena, se divertindo com meu jeito. Terminei o cigarro e ela se levantou, era tão pequena que a cabeça não chegava a aparecer pela janela, conheci meu observador através do vidro, esperou que eu apagasse o cigarro na quina da janela e saiu.

sábado, 7 de maio de 2011

Ausências internas

Era uma noite confusa por vários motivos. O céu estava com cara de chuva, o vento estava frio como se fosse chover, mas não choveu. E em Alice tudo era muito parecido, estava com uma cara de quem precisa chorar, as mãos frias como se tivessem enxugado lágrimas, mas ela não chorou, apesar desta ser sua maior vontade. Mas era um choro como o mau tempo que fazia. Desnecessário. Ela sabia disso e só por saber se sufocava em uma angustia totalmente desconhecida. É quando tudo está assim, como agora, que dói mais.

domingo, 3 de abril de 2011

Quando o Cabaré abre as portas, ou as pernas.

Eu gosto das putas. Sim, e agora não falo das que amo, mas das que ficam na rua mesmo. Eu gosto delas. Do batom vermelho e as sombras azuis baratas. Gosto da conversa e do cheiro do suor de sexo que elas exalam mesmo paradas. A vulgaridade e a elegância nascidas em um corpo só. O jeito do sorri que sabe esconder a humilhação ou até a pouca vergonha para assumir que gosta de sexo pago. A sinceridade e a experiência na arte do gozo. Antes de morre quero um quarto de motel de beira de estrada, um cigarro barato e uma puta muito bem paga pra trocar uma prosa rápida e chegar ao céu aterrorizando as boas moças.

terça-feira, 22 de março de 2011

Amor de rapariga não vinga, não!

Quando estou amargurada meu humor é mais felino e eu gosto disso. Parece que consigo, nesses momentos, arranhar a carne de muita gente. Daqueles arranhões fortes, que deixam cheiro de carne na ponta dos dedos e resto de pele nas unhas. É quase uma cravada fatal! Também tenho vontade de estrangular, mas sem me sentir assassina. Aquela coisa delicada, quase sutil, mas transbordando de veneno. Quem nunca deu uma alfinetada nua e crua nesse mundo que me atire à primeira pedra.

Nem a puta do Santíssimo escapou dessa. Ciúme, mesclado a risos alheios, é foda! Não é qualquer tipo de ciúmes, nem de risos. São daqueles que você só sente pelas prostitutas, quando digo dos ciúmes e dos mais escrachados, quando digo dos risos. Nessa hora o sangue sobe, borbulha e na mão você sente os dois lados da face fria daquela rapariga bem rodada.

Cabaço ali nem as narinas lembram mais como é. Rapariga de roupa curta, só não mostra o bico do peito porque é feio, mas se quiser ver o resto não custa nada. Garota de programa gratuita. Se não foi teu dedo... Olhe que membros não faltam e tenho certeza, já estiveram naquele mapa desgastado.

Ah! Mais são dessas Marias Madalenas que gostamos mais. A puta que a gente vai salvar! Doce ilusão e muito peso na cabeça. Amigo isso não é a tua consciência que pesa, são os chifres que essa devassa, que não é cerveja e muito menos loira, te coloca!

sábado, 12 de março de 2011

O meu novo de novo

Na verdade, até eu me canso de ouvir meu choramingar pelo amor, mas é difícil não falar sobre isso quando sinto dentro do meu peito bater a coisa que os apaixonados sentem. Sei que sou um tipo de apaixonado bem clichê. Daqueles que sentem o amor sozinho. Eu amo só. Na verdade eu relembro meu amor. Eu puxo do meu intimo esse sentimento, que parece esquecido, apagado, mas que está ali, fervendo dentro da minha alma. E é por isso que eu tanto me escondo. É sim, é por isso tudo que eu me esquivo das palavras mais certas pra dizer. Tenho o medo dos que amam de dizer a verdade e ficar perdida.

Mas sinto. Não me nego a sentir tudo isso quando encosto a cabeça no travesseiro. Ah! Meus sonhos, eles são quase realidade. Eu lembro bem como é tocar um cacho de cabelo, eu lembro bem como é ver um sorriso de lábios finos. Parece que para o amor o tempo não passa. Ele faz questão de parar pra mim. Até meu colchão ajuda. Ele ainda tem tua forma e exatamente do teu lado. Eu ainda lembro com veracidade o beijo, o cheiro.

Mau trato. Meu desejo é esquecer, mas lembrar, também me faz tão feliz. Será que essa felicidade é porque eu realmente quero, ou só porque já perdi? Saudade de amor é a coisa mais louca que Deus criou no mundo. Aperta no peito, mas aperta que tira o folego na vida real. Me faz perder o gosto, a concentração. Sonhar e acordar lembrando as coisas que couberam no passado por vezes me faz tão bem!

Dores ou sonhos? Sei lá, tanto faz agora. Eu só preciso lembrar, lembrar de como era tua voz, teu jeito. Lembrar de como eu conseguia naquele tempo te roubar sorrisos que hoje não consigo mais. Preciso também descobrir como esquecer para viver outras lembranças. Eu não quero uma vida de um amor só. Quero descobrir o mundo por olhos que não são meus. E você, nesse momento, me impede de construir o que eu desejei.

Só ventilador sabe o lado certo de girar

As madrugadas são geniais pra mim. Aqui de cima, mesmo estando consideravelmente baixo comparado aos prédios do recife, no meu terceiro andar, não se ouve barulho de carros, gente e nem mesmo o da minha própria casa. Mesmo tendo nascido às 10 da manhã, eu me fiz foi dentro do escuro, mas com o quarto muito bem iluminado. Tenho pavor do escuro total. Antes, quando eu era uma durona, não admitia meus “pequenos” medos. Era mais bonito dizer que eu mantinha uma relação de respeito com o escuro. Ele é maior do que eu, então o respeito.

É gostoso imaginar o que acontece nas janelas dos prédios vizinhos durante a madrugada. Alguns, na penumbra da televisão, ainda se mostram acordados, ou não. Outros, bem acesos, podem também estar acordados ou são do clã dos medrosos e dormem no claro. Isso me lembra duma noite. Estava voltando de algum canto com minha mãe. Nessa época, devia está com os meus dourados quinze anos e andava no carro deitada no banco de trás. Gostava de ver as luzes dos postes se misturarem com as copas das árvores. Dava um efeito bonito. Não lembro o porquê, mas mesmo sendo tarde estava um transito louco. E de cabeça pra baixo eu olhava pra uma janela do segundo andar de um prédio caixão. Tinha um homem sentado na varanda. Parecia ser velho, não dava pra enxergar o rosto dele. A luz da sala estava acessa e a da varanda apagada, só me deram direito de ver sombras. Uma mulher entrou, acho que a filha, talvez a enfermeira, talvez uma namorada muito jovem, mas naquela época eu só pensei que era a filha muito zelosa pelo pai idoso. Ela trazia um copo, eu pensei ser água e ela o entregou alguma coisa fora o copo, que eu achei ser um remédio. Para mim ele era um velho e velhos tomam muitos remédios. Também pensei que aquele era um velho ranzinzo, o homem parecia reclamar e não queria tomar o remédio. Eles pareciam conversar, imaginei toda a conversa prestando bem atenção nos gestos das mãos dos dois. Ela saiu logo, acho que deve ter ficado com raiva porque ele se negou a tomar o remédio. Depois de um tempo o carro andou e não dava mais pra ver a janela. Às vezes me pergunto se ele tomou o remédio, às vezes também me pergunto se era um remédio.

Dentro do meu quarto, nas madrugadas, me sinto meio Gregor Samsa, mas também me sinto um adolescente espiando os vizinhos com binóculo. E não me envergonho disso, não é nenhum pecado e acredito que Deus, ou qualquer um dos seus assessores, no dia do purgatório, vai relevar essa coisa toda de olhar os alheios.

A questão não é só o silêncio. É a sensação de poder olhar e acreditar que também não está sendo olhado. É a coisa de pensar está vendo o que ninguém mais pode ver. E é o seu quarto, seu domínio. Aqui eu conheço todas as paredes e cada detalhe do chão. A segurança e o meu próprio mistério. O vento da madrugada também é mais gostoso. Parece que ele aprende a entrar pela janela de um jeito diferente e que por falta de carros, ele é mais limpo e que minha liberdade gira junto com meu ventilador de teto.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Bula para garganta inflamada

O mal maior é essa necessidade-sei-lá-do-que que me segura o pescoço com as duas mãos, como quem estrangula o pescoço de uma galinha prestes a morrer. Não é só um simples nó na goela que me tira o ar, entende? O desconforto de acordar e não ter controle nem sobre o dedo mindinho, mas mesmo assim ter que se pôr de pé com sorriso na cara, desmancha pedaços da alma. Isso também não é drama descabido e desnecessário da minha juventudo, mesmo em plena idade adulta. Tem quem chame toda essa coisa de "falta". Certo. Seria muito fácil chamar assim e logo em seguida colocar um ponto encerrando a frase, mas me explique uma coisa, amigo-dicionário-dos-sentimentos: Falta de que?

Fora essa coisa toda incomoda, eu ainda tenho um consolo soturno e macabro: As palavras são um tipo de bicho tão grande que conseguem, sem você nem perceber, criar uma realidade que nunca existiu. É por isso que acredito que não vai adiantar ele fotografar no melhor ângulo o que eu tive na palma da minha mão. Enquanto eu me preocupei em sentir, você foi o bobo que guardou o que nunca vai ter. E no fim dessa frase a necessidade-sei-lá-do-que aperta forte, me deixando sentir todos os dedos de suas mãos empurrarem ao fundo do poço minha respiração. Puxa ar, puxa ar. Minhas palavras com caneta de hidrocor vermelho nunca vão conseguir mudar a realidade de que ele sabe como fazer ela feliz e quando tudo acabar, vão ser as palavras dela, escrita em um papel enfeitado, que vão dizer: "você me fez feliz como ninguém".