terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Armário.


"Eu queria, senhora, ser o seu armário
e guardar os seus tesouros como um corsário
Que coisa louca: ser seu guarda-roupa!
Alguma coisa sólida circunspecta
e pesada nessa sua vida tão estabanada.
Um amigo de lei (de que madeira eu não sei)
Um sentinela do seu leito com todo o respeito.
Ah, ter gavetinhas para suas argolinhas
Ter um vão para seu camisolão e sentir o seu cheiro, senhora, o dia inteiro
Meus nichos como bichos engoliriam suas meias-calças,
seus soutiens sem alças, e tirariam
nacos dos seus casacos,
E no meu chão,como trufas, as suas pantufas...
Seus echarpes, seus jeans, seus longos e afins
Seus trastes e contrastes.
Aquele vestido com asa e aquele de andar em casa.
Um turbante antigo. Um pulôver amigo. Bonecas de pano.
Um brinco cigano.Um chapéu de aba larga.
Um isqueiro sem carga.Suéteres de lã e um estranho astracã.
Ah, vê-la se vendo no meu espelho, correndo.
Puxando, sem dores, os meus puxadores.
Mexendo com o meu interior à procura de um pregador.
Desarrumando meu ser por um prêt-à-porter...
Ser o seu segredo,senhora, e o seu medo.
E sufocar com agravantes todos os seus amantes."


\\Texto Luís Fernando Veríssimo; Foto Maria Olivia//

Vermelho.

Medo junta no peito como se alguém tivesse passado a vassoura arrastando todos os restos pra um canto só. Alguns esperam o vento bater e fazer medo de poeira se espalhar mundo a fora. Outros procuram um tapete pra esconder a sujeira debaixo.

A cor pode não ser vermelha, mas espelhava-se aquele tom por todo o corpo, espaço e tudo, e tudo e mais um pouco. Vermelho igual sangue. Isso dá medo do próprio medo. Sua cor forte, tão viva, seus detalhes e suas mil facetas.

Quando fica escuro no céu e na terra a voz do medo corre aliciando lagrimas, mastigando a calma. O som do medo é o silêncio.

Quero pinceis novos e uma aquarela de cores novas pra pintar o medo de branco e fazer sumir.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Não se engane.


Hoje é mais fácil ver mentira, suas formas inebriantes e coloridas com cores roubadas das borboletas vestem olhos perdidos. Mentira lembra vingança: doce e fria, lenta e linda. Tem a suavidade do som de uma lira e toda sua estética rústica e elegante.

Malandra, dança. Canta no pé do ouvido, Engana.

Ósculo. Por favor, não se engane, eu me peço. Não dessa vez.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

A minha vontade.

Vontade desvairada, desmedida que maltrata o organismo vivo. Sonhos que se apagam por não existir uma caixinha que caibam eles. Até o medo do escuro pode ser superado, mas a vontade é constante, cotidiana. Insaciável fome de linhas próprias transforma caderno em puro egocentrismo.

Largam-se todos os vícios, dos mais simples aos mais complexos, vontade, que não é vício, permanece viva e aflorando novos vícios. Tudo que foi vivido tem que achar seu espaço, sua vaga, no aperto de pequenas e bagunçadas letras. As rubras rugas não se desenham tão fácil. É uma luta querer saber como descrevê-las.

Vontade transpassada guardada dói, tem o cheiro da dor, a pele da dor. Revivida parecem ser de autoria de outrem desconhecido. Acaba com os cigarros e bebas bebidas dos botecos. Ilude no seu fim e faz esquecer-se do começo. Prende num tempo sem horas, que de fora parece arrastar pra passar, mas que na vera está congelado, condenando quem a vive para a eternidade.

E assim foi.