sábado, 12 de julho de 2008

Sem perdões

O balanço é sobre a água. O barco, mais distante, acomoda o homem de pé. Enquanto o balanço se movimenta o negro dos seus cabelos desliza. Branco. Cinza. Azul e uma flecha cortando o ar rente ao mar. Na frente. Saias sabem dançar, dançarinas de espelhos ensinam o giro. Saia de pregas. Listras e manga longa. Parece que faz frio. Tinta. Sente a tinta.

Não acredite. Era tudo sonho. Não acredite. Não se permita. Não se desculpe.
Um dia aprendo a ser tão má quanto Deus e a partir de então farei com que Eles acreditem e não mais eu.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Entre disfarces e macetes.

É importante lembrar que não basta saber rebolar no bambolê por trinta minutos.

Esqueça. Esse é o desejo. Esquecer. Perder. Tirar. Não fazer parte de. Desejar esquecer é lamentável, principalmente quando se tem o vicio nojento de observar e passar.

Parece que o ar agora entra no balão e se as cores estão mais vivas, lembre-se sempre que alguém limpou o vidro.

Esconder. Assim fica mais fácil fazer acreditar que foi esquecido.



terça-feira, 25 de março de 2008

Nesse não use dicionários e nem um pouco de preocupação.

Sentir aos poucos não é querer dizer sentir pouco, entenda isso meu amor. Entenda que no meu abraço frouxo é só pra deixar caber tudo dentro dele. E se você ler o amor apenas como amante, faz favor de parar neste ponto que do gratuitamente agora.

Ninguém é amante aqui. É um amor que não se sabe definir, que já foram perguntadas suas formas e das respostas mais baratas foram recebidas. Não me diga. É fácil calar, meu bem. Então faz silêncio. Se você é estranho então me conceda um beijo.

Olha que tem um caminho bem curto ali. Mas andar é cansativo. Pelejo, mas não vou.
olha que tem. Se tivessem rodas daquelas que não precisam de muita força pra corre, talvez, num dia de muito sol – que não é o caso de hoje – estaria longe. E perto de alguma coisa.

Não, não é um texto de amor. Não, também não é um texto de entender. Sim é um texto, mas do que? E quem sabe? Perdeu a vontade.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Nada não.

É tudo porque o tempo vai passando e não aparecem ganchos pra segurar firme e não cair. E o pior de tudo é que cair pode parecer triste, mas vem junto com prazer agora. Não diminui, muito menos reprime. Foi só que ninguém viu que tinha um pára-quedas aberto, e o descer foi suave, confortante. Caiu no chão com os pés nus, mas bem recebidos quando chegou. Nada tremeu e a falta donde se segurar não afetou. Aquele pé esperto já conhecia bem onde iria pisar e foi descalço sem medo de encontrar pregos pelo caminho.

Pisar com força pode parecer raiva, mas às vezes pode ser só uma forma de apoiar melhor. Não viu as mãos? Elas seguram no vento pra ele escapar nos corredores finos dos dedos. Parecem de bailarinas bem treinadas: deixam suavidade por onde passam pra esconder a força contida no mais leve dos movimentos.

Tem a porta entre aberta. Não passa nem a brisa, nem eu, nem você. E é por isso que está todo mundo aqui. Ah! Mas é nada não, tranca a porta, toma um vinho e não se esquece de dançar, pra só cair de verdade quando tiver cansado, dormi e acorda pra começar mais uma vez. Você sabe e sabe bem melhor do que eu que tudo isso não é nada, não é nada, não.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Armário.


"Eu queria, senhora, ser o seu armário
e guardar os seus tesouros como um corsário
Que coisa louca: ser seu guarda-roupa!
Alguma coisa sólida circunspecta
e pesada nessa sua vida tão estabanada.
Um amigo de lei (de que madeira eu não sei)
Um sentinela do seu leito com todo o respeito.
Ah, ter gavetinhas para suas argolinhas
Ter um vão para seu camisolão e sentir o seu cheiro, senhora, o dia inteiro
Meus nichos como bichos engoliriam suas meias-calças,
seus soutiens sem alças, e tirariam
nacos dos seus casacos,
E no meu chão,como trufas, as suas pantufas...
Seus echarpes, seus jeans, seus longos e afins
Seus trastes e contrastes.
Aquele vestido com asa e aquele de andar em casa.
Um turbante antigo. Um pulôver amigo. Bonecas de pano.
Um brinco cigano.Um chapéu de aba larga.
Um isqueiro sem carga.Suéteres de lã e um estranho astracã.
Ah, vê-la se vendo no meu espelho, correndo.
Puxando, sem dores, os meus puxadores.
Mexendo com o meu interior à procura de um pregador.
Desarrumando meu ser por um prêt-à-porter...
Ser o seu segredo,senhora, e o seu medo.
E sufocar com agravantes todos os seus amantes."


\\Texto Luís Fernando Veríssimo; Foto Maria Olivia//

Vermelho.

Medo junta no peito como se alguém tivesse passado a vassoura arrastando todos os restos pra um canto só. Alguns esperam o vento bater e fazer medo de poeira se espalhar mundo a fora. Outros procuram um tapete pra esconder a sujeira debaixo.

A cor pode não ser vermelha, mas espelhava-se aquele tom por todo o corpo, espaço e tudo, e tudo e mais um pouco. Vermelho igual sangue. Isso dá medo do próprio medo. Sua cor forte, tão viva, seus detalhes e suas mil facetas.

Quando fica escuro no céu e na terra a voz do medo corre aliciando lagrimas, mastigando a calma. O som do medo é o silêncio.

Quero pinceis novos e uma aquarela de cores novas pra pintar o medo de branco e fazer sumir.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Não se engane.


Hoje é mais fácil ver mentira, suas formas inebriantes e coloridas com cores roubadas das borboletas vestem olhos perdidos. Mentira lembra vingança: doce e fria, lenta e linda. Tem a suavidade do som de uma lira e toda sua estética rústica e elegante.

Malandra, dança. Canta no pé do ouvido, Engana.

Ósculo. Por favor, não se engane, eu me peço. Não dessa vez.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

A minha vontade.

Vontade desvairada, desmedida que maltrata o organismo vivo. Sonhos que se apagam por não existir uma caixinha que caibam eles. Até o medo do escuro pode ser superado, mas a vontade é constante, cotidiana. Insaciável fome de linhas próprias transforma caderno em puro egocentrismo.

Largam-se todos os vícios, dos mais simples aos mais complexos, vontade, que não é vício, permanece viva e aflorando novos vícios. Tudo que foi vivido tem que achar seu espaço, sua vaga, no aperto de pequenas e bagunçadas letras. As rubras rugas não se desenham tão fácil. É uma luta querer saber como descrevê-las.

Vontade transpassada guardada dói, tem o cheiro da dor, a pele da dor. Revivida parecem ser de autoria de outrem desconhecido. Acaba com os cigarros e bebas bebidas dos botecos. Ilude no seu fim e faz esquecer-se do começo. Prende num tempo sem horas, que de fora parece arrastar pra passar, mas que na vera está congelado, condenando quem a vive para a eternidade.

E assim foi.