terça-feira, 21 de junho de 2011

Mantenha sua janela sempre aberta


Minha janela me surpreende. Agora, às 2 da manhã, eu posso ter uma conversa amigável com o vizinho do prédio ao lado fumando seu baseado sagrado e eu fumando o meu careta. Me vem a cabeça os risos dele: a menina fuma cigarro sem graça. E a minha inveja pelo outro fumo. Bem que eu podia puxar dessa fumaça mais leve. O tenho como um amigo da madrugada. Sempre sou recebida com um comprimento tímido; ele balança a cabeça de lá e eu de cá. Fico na janela só o tempo do cigarro, mas ele fica mais. Quando volto pra fumar o segundo ele sempre está olhando o que eu não posso vê. Nessa hora ele já nem me nota mais. Ai eu começo a olhar os movimentos, tento imaginar o que tem dentro daquele quarto, do qual mal consigo vê um quadro de moldura fina e escura. Um mundo de outrem que desconheço por completo.

Quando chego à janela durante a tarde vejo só os pivetes, deste mesmo outro prédio, brincando. Eles correm entre carros com uma esquiva que tenho certeza, aprenderam jogando rpg em algum vídeo game de alta tecnologia. Os gritos e risos são tão altos que mesmo quando tento evita-los, eles invadem meu quarto e sou forçada a fumar um cigarro só pra ficar olhando. Tem um deles, um ruivo, baixinho e com um sorriso encantador que sempre me acena. Ele ri e da um tchau desses de menino pequeno que deixa qualquer durão abestalhado. Deve ter seus 8 anos. Lembro que a primeira vez que me viu tentou me mostrar ao resto do grupo. Ninguém deu bola pra o que ele apontava. Eu. Me apontava e gritava, mas era um grito de convite, como se me quisesse no grupo, me chamando pra diversão. Eu nunca desci, mas nunca deixei de aparecer na hora marcada da brincadeira deles. Pelo menos pra ganhar um aceno e aquele sorriso bobo, que logo se vira e se mistura entre os carros, correndo e gritando.

Essa tarde eu cochilei; perdi o meu aceno. Quando cheguei à janela pra fumar meu cigarro o sol já estava se esmagando entre prédios e o céu todo laranja. Os meninos já deviam ter subido há muito tempo. Eu, sem saber pro que olhar, fiquei me perdendo de varanda em varanda. Até que na ultima varanda do lado esquerdo eu a vi. Ela estava sentada no chão, sua varanda era toda de vidro e consegui vê até seu vestido, um rosa com babados. A cabeça escorada no vidro ela me analisava e parecia ser costumeiro faze-lo. Me senti intimidada. Ela não me comprimentou, só olhava. Não consegui olhar fixamente; Será que ela sempre me olha? Tão escondida, nunca poderia achar. Ficamos as duas nesse jogo medroso pra mim e divertido pra ela que sorria com malicia para uma menina pequena, se divertindo com meu jeito. Terminei o cigarro e ela se levantou, era tão pequena que a cabeça não chegava a aparecer pela janela, conheci meu observador através do vidro, esperou que eu apagasse o cigarro na quina da janela e saiu.