terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Armário.


"Eu queria, senhora, ser o seu armário
e guardar os seus tesouros como um corsário
Que coisa louca: ser seu guarda-roupa!
Alguma coisa sólida circunspecta
e pesada nessa sua vida tão estabanada.
Um amigo de lei (de que madeira eu não sei)
Um sentinela do seu leito com todo o respeito.
Ah, ter gavetinhas para suas argolinhas
Ter um vão para seu camisolão e sentir o seu cheiro, senhora, o dia inteiro
Meus nichos como bichos engoliriam suas meias-calças,
seus soutiens sem alças, e tirariam
nacos dos seus casacos,
E no meu chão,como trufas, as suas pantufas...
Seus echarpes, seus jeans, seus longos e afins
Seus trastes e contrastes.
Aquele vestido com asa e aquele de andar em casa.
Um turbante antigo. Um pulôver amigo. Bonecas de pano.
Um brinco cigano.Um chapéu de aba larga.
Um isqueiro sem carga.Suéteres de lã e um estranho astracã.
Ah, vê-la se vendo no meu espelho, correndo.
Puxando, sem dores, os meus puxadores.
Mexendo com o meu interior à procura de um pregador.
Desarrumando meu ser por um prêt-à-porter...
Ser o seu segredo,senhora, e o seu medo.
E sufocar com agravantes todos os seus amantes."


\\Texto Luís Fernando Veríssimo; Foto Maria Olivia//

4 comentários:

luci disse...

com agrafos!! ...:)

luci disse...

lindíssimo aliás...

ROSASIVENTOS disse...

ali


escolhi as sete letras sete varas sete vestes cor da carne

carne branca seiva azul com marca rosa
em brasa


para sempre para sempre sempre sempre e sempre

para

A. de Lima disse...

Adoro o Luís Fernando Veríssimo!

Tenho o 'Comédias para se ler na escola', ganhei quando era 6ª série e só no 2º ano científico fui reconhecer seu valor.

Esse aí é um dos meus favoritos!

Até mais!